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"(...) Hoje eu estou mais maduro, mais do que ontem, mais que ano passado, muito mais do que qualquer outra fase que eu já tenha vivido. Estou mais maduro, eu posso perceber. Percebo pelas complicações que eu já crio sozinho, percebo pelas minhas necessidades, que já são bem maiores, percebo pelas escolhas que eu faço e pelos caminhos que eu decido seguir. No entanto estar mais maduro não é estar mais confiante. Não é estar mais protegido, não é ser mais auto-suficiente. Não é.
Eu não tenho medo de crescer, eu tenho medo de ser gente grande. Tenho medo de ter muitas certezas e de me acalmar com respostas que não são minhas. Ser alienada e me esquecer como se colore um livro de criança. Tenho medo de acomodar na raiz dos pelos do coelho, e perder a vontade de ir a ponta, em busca do brilho, jamais encontrado.
Eu quero viver pra sempre sem ter medo do ridículo, quero viver pra sempre sem me preocupar com o julgamento alheio. Quero viver pra sempre sem precisar de crer em nada, além de mim. Quero poder ser medíocre e mandar a expectativa dos outros se fuder. Quero poder ter medo. Quero ter medo sempre de me tornar mais um, que se abandou, pra ser gente grande.
Ser gente grande é perigoso, abrange coisas que não me atraem. Por que no fundo eu gosto de não ter identidade, eu gosto de não saber, gosto de oscilar, gosto dessa busca, que sempre me fez companhia. Eu gosto dessa curiosidade que gente grande tem medo.
Gente grande tem culpa, tem pudor, tem muita expectativa, mas se satisfaz com muito pouco. E se sente culpado por isso. Por que não sabe mais deixar de ser, não sabe mudar. Gente grande tem medo. Um medo barato, é um medo mentiroso e coletivo. Mas que no fundo é só o medo de se tornarem o que são.
Então, quando eu deixar de ser criança, eu quero ser artista. Por que artistas são crianças que deixaram de ser, mas não se renderam ao medo.
Agora, pode me chamar de covarde que eu não estou nem aí, não ligo pra nada mesmo."


Janaína Viana.